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O que deixou de ser e o que ainda é tabu dentro dos escritórios
Enquanto escrevia sobre o tabu que impede milhões de funcionários de escritórios com depressão nervosa de discutirem sua condição em torno do bebedouro de água, eu inadvertidamente quebrei um outro tabu.
Lucy Kellaway
Enquanto escrevia sobre o tabu que impede milhões de funcionários de escritórios com depressão nervosa de discutirem sua condição em torno do bebedouro de água, eu inadvertidamente quebrei um outro tabu.
Eu usei a palavra "colhões" na descrição de um teste de rotina que os médicos fazem em pacientes do sexo masculino. Vários leitores escreveram para reclamar que o termo foi inadequado em uma coluna que trata da vida nos escritórios. Fiquei impressionada com o fato deles reagirem a um ato de vulgaridade tão pequeno, em função dos grandes atos de vulgaridade que são perpetrados o tempo todo nos escritórios.
Mas as reclamações também me fizeram querer ter um manual de regras, um guia definitivo sobre o que é e o que não é apropriado no escritório. Como não há nada do tipo na internet, tive que escrever o meu próprio manual e saí à caça de tabus nos escritórios. Primeiramente, olhei para os lugares óbvios, mas não consegui nada, uma vez que a maior parte dos velhos tabus está acabando.
Para começar, xingamentos e outros linguajares duvidosos são aceitos na maior parte dos escritórios, contanto que sob consentimento das pessoas envolvidas e que uma ou duas palavras mais pesadas sejam evitadas. Mesmo assim continua não sendo uma boa ideia xingar alguém diretamente, especialmente se esse alguém for um chefe.
O sexo continua sendo um tanto inadequado- especialmente consumar o ato no local de trabalho. No entanto, a paquera- que nos últimos 15 anos foi tabu, uma vez que os homens temiam que mesmo um sorriso para uma mulher poderia ser interpretado como assédio sexual- está voltando. Os homens estão voltando a comentar a aparência de uma colega. Isso é uma mudança para melhor- ou seria se os homens soubessem como fazer isso apropriadamente. Na semana passada, um colega me perguntou com um tom incrédulo: "Você mudou alguma coisa nos cabelos?" Eu respondi friamente: "Acho que o quê você está querendo dizer é: 'seus cabelos estão lindos'."
Discussões sobre sexo são perfeitamente aceitáveis nos espaços abertos dos escritórios- com frequência é possível ouvir trechos de colegas lavando a roupa suja em conversas nas baias com advogados que estão tratando de seus divórcios, ou detalhes sobre encontros amorosos desastrosos.
Demonstrar fortes emoções, que já foi visto como uma coisa indigna, é hoje visto como uma coisa boa. Pode-se chorar com segurança (pelo menos no caso das mulheres), sem que isso provoque um dano exagerado à carreira. A raiva também está voltando: um estudo recente sugere que ela pode ser uma coisa purificadora em certas situações.
Quando o assunto diz respeito aos vestidos que se pode usar no local de trabalho, não há nada frugal ou desmazelado demais. Outro dia, uma mulher que trabalha comigo apareceu andando pelos corredores com um vestido com um decote nas costas que era mais apropriado para a praia.
Nem mesmo cochilar no local de trabalho provoca mais surpresa- contanto que você não faça isso enquanto seu chefe estiver falando com você. Alguns escritórios estão chegando ao ponto de criar salas especiais para os funcionários fazerem a sesta.
A única coisa que consigo pensar- além de discutir os problemas de depressão de alguém- que ainda é proibido, é falar sobre o salário. Graças a Deus ainda é considerado deselegante perguntar a um colega quanto ele ganha.
Todavia, o fim dos tabus óbvios não significa que agora vale tudo. Na verdade, não está havendo uma permissividade geral: é que há certos tabus modernos nos escritórios que são mais sutís e, desse modo, são mais fáceis de serem quebrados quando não há uma eterna vigilância.
Por exemplo, o maior tabu no local de trabalho é de longe a verdade- ou pelo menos qualquer verdade que prejudique a importância por si mesma do trabalho. Uma amiga me disse que participou recentemente de uma conferência telefônica mundial, em que cada pessoa se apresentou e disse onde estava. Uma disse que estava em uma sala de reuniões em Londres. Outra disse que estava em um jatinho corporativo. Minha amiga disse que estava na cozinha em casa, de pijamas, comendo uma torrada. Houve um breve silêncio, seguido de risadas envergonhadas.
Do mesmo modo, há um tabu sobre a ambição. Uma pessoa não deve alardear que tem muita coisa, nem dizer que tem pouco demais. Você não pode dizer para o seu chefe: vou ficar aqui até a minha aposentadoria. Também não pode dizer: quero o seu cargo. Na verdade, quando alguém conversa com o chefe, quase tudo é tabu. É muito arriscado fazer uma piada. É arriscado ser muito camarada. O retorno honesto é sempre um plano ruim. O mesmo pode ser dito da ironia.
É um grande tabu criticar a própria companhia. Por exemplo, se você trabalha para uma firma de consultoria estratégica, você nunca pode dizer: "Somos iguais às outras firmas de consultoria estratégica". Embora qualquer idiota de fora saiba que isso é verdade, os gênios de dentro não podem admitir isso, caso contrário seu mundo desmoronaria.
No entanto, há uma coisa no local de trabalho que deveria ser tabu, mas não é: trabalhar de maneira desleixada. Isso continua sendo perfeitamente aceito mesmo na empresa mais competitiva deste planeta. No Goldman Sachs, onde os analistas precisam contornar centenas de obstáculos para conseguir um emprego, não é tabu alguém dizer besteiras aos clientes. O mais recente relatório "Energy Watch" do banco diz: "Apesar das surpresas positivas com a demanda, a oferta também vem apresentando surpresas significativas, com a maior parte delas vindo da extinta União Soviética, onde a oferta não só nos surpreendeu com 650.000 barris/dia, como também a Agência Internacional da Energia, com quase 500.000 barris/dia...". Usar a palavra "surpresa" quatro vezes em uma sentença na qual você admite que falhou em prever a demanda ou a oferta é uma coisa e tanto. Surpreendentemente ruim, na verdade.
Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada quinzenalmente na editoria de Carreiras.