Jim Rohn, empreendedor
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Balanços apontam início da recuperação
O terceiro trimestre de 2008 foi o auge de um período de vários anos de crescimento acelerado das empresas de capital aberto.
Durou exatamente um ano. O terceiro trimestre de 2008 foi o auge de um período de vários anos de crescimento acelerado das empresas de capital aberto. O terceiro trimestre deste ano está com jeito de ser, pelos balanços que saíram até sexta-feira, o início da recuperação dos efeitos da turbulência financeira global, principalmente para as exportadoras.
Bons tempos aqueles, pré-crise. Recordes de vendas e lucros, ações em níveis históricos. Os executivos mais traumatizados, no entanto, não querem nem ouvir falar desse assunto. Comparar mesmos trimestres, como é praxe na análise de resultados para não se misturar estações, virou uma saia justa. É como se aquele mundo não existisse mais - e, de certa forma, não existe mesmo.
"Vai levar alguns anos para voltar àquele ritmo de crescimento", disse Livaldo Aguiar dos Santos, presidente da fabricante de máquinas Romi, que viu seu faturamento cair 40% na comparação com o recorde histórico de 2008.
Na teleconferência de resultados da siderúrgica Gerdau, o terceiro trimestre anterior não foi sequer citado. Todo raciocínio foi feito como se 2009 fosse o ano-zero de uma nova era. A receita recorde de R$ 12,4 bilhões em 2008, que caiu quase à metade agora, é definitivamente coisa do passado.
Pela lógica do ano-zero, estamos melhorando. Os dados dos primeiros 60 resultados de empresas abertas apontam que as receitas voltaram a crescer e os esforços por eficiência já se refletem nas margens, o que permitiu uma melhora relevante na rentabilidade.
Na comparação com o segundo trimestre, a receita líquida das companhias subiu 6,7%, para R$ 73,6 bilhões, enquanto que os custos foram contidos a uma alta de 1,1%. A cruzada por lucratividade avançou sobre despesas gerais e administrativas. Com isso, o lucro operacional antes do financeiro mais do que dobrou, passando de R$ 5,9 bilhões para R$ 13,6 bilhões. Os ganhos na última linha dos balanços foram 59,6% maiores, chegando a R$ 9,4 bilhões.
A analista Mônica Araújo, chefe de análise da Ativa Corretora, destaca o fato de que as empresas, mesmo as não afetadas pela turbulência internacional, fizeram esforços para cortar custos e despesas. "A crise gera pressão para que as companhias olhem para dentro de casa e diminuam os gastos."
Contudo, quando a referência são os números do terceiro trimestre de 2008, os efeitos da crise continuam evidentes. A receita líquida ainda é 15% menor e o lucro líquido está achatado em 37,4%. O desempenho do trimestre colocou as empresas de volta aos níveis de 2006, se for feita uma análise com os dados corrigidos pela inflação. Há ainda um longo caminho a percorrer até o período pré-crise.
Com as primeiras boas notícias para dar aos investidores desde a instalação da crise, em setembro de 2008, a frase "o pior já passou" foi a mais ouvida de executivos e analistas de empresas de commodities e da indústria de base nesta temporada de balanços.
O título do relatório da Vale é "Retomando o crescimento", depois de um período de péssimas lembranças. A siderúrgica ArcelorMittal, seu principal cliente, passou cinco meses sem fazer encomendas. A saída foi embarcar minério para a China, em uma viagem de 45 dias, sem comprador definido.
No terceiro trimestre, a companhia embarcou 36% mais minério do que no segundo. A receita líquida evoluiu 23,4%, para R$ 13,2 bilhões, e o lucro líquido dobrou somando R$ 3 bilhões. Em relação ao mesmo período de 2008, contudo, as quedas são bem significativas, de 36,2% e 60%, respectivamente.
Reginaldo Alexandre, presidente da regional de São Paulo da associação de analistas (Apimec), explica que do ponto de vista operacional, em geral o terceiro trimestre é sazonalmente mais forte, principalmente para a área industrial que abastece o comércio no fim de ano. Além disso, houve as medidas dos governos em todo mundo para conter a crise e estimular a economia. "O resultado disso tudo foi uma notória melhora operacional."
Mônica Araújo destaca que as siderúrgicas surpreenderam positivamente no terceiro trimestre. A Gerdau, por exemplo, informou na semana passada que produziu 30% mais aço bruto e sua receita líquida cresceu 6,3%, para R$ 6,8 bilhões - sempre ante o segundo trimestre. Além disso, a empresa voltou para o azul e teve lucro líquido de R$ 655,1 milhões. A diferença entre a evolução nas vendas e a receita, contudo, deixa clara uma das principais consequências da retração global: a queda no preço das commodities.
Já o segmento de consumo - que praticamente passou ao largo pela crise, alimentado por um mercado interno ainda aquecido - continua sem ter do que reclamar. Até na comparação com 2008 o setor registra avanços relevantes.
A companhia Hering, do varejo têxtil, aumentou a receita líquida em 37% frente a 2008 e 3% sobre o segundo trimestre, para R$ 175,7 milhões. Apesar de sustentar um agressivo plano de expansão de pontos de venda, boa parte do crescimento veio de um avanço de 21% no conceito mesmas lojas. "Alcançamos a marca de nove trimestres consecutivos com alta nas mesmas lojas bem acima de dois dígitos", afirmou Fábio Hering, presidente da companhia.
Na Lojas Americanas, a receita líquida aumentou 20%, para R$ 2 bilhões. E a companhia planeja investir R$ 1 bilhão para abrir 400 lojas de 2010 a 2013 (ver também página D7).
A crise, porém, deixou um rastro importante que alcança todas as companhias: o aumento no custo do crédito. E essa conta já começou a ser paga. Houve um afrouxamento nas condições, mas ainda há muito espaço para avanços.
Sintoma disso é que as despesas financeiras das empresas tiveram melhora importante na comparação entre setembro de 2008, quando o dólar deu um salto com a crise, e junho deste ano. A conta saiu de um negativo de R$ 7,8 bilhões, nos 60 balanços analisados pelo Valor, para um positivo de R$ 5,3 bilhões. Porém, entre o segundo e o terceiro trimestres, mesmo com o contínuo recuo do câmbio, a conta ficou ligeiramente negativa em R$ 214 milhões. Muitas companhias tiveram que aceitar taxas elevadíssimas na crise para captar ou renegociar vencimentos.
Os economistas do JP Morgan Fabio Akira Hashizume e Julio Callegari destacaram em relatório que a evolução no ambiente do crédito para empresas é a menos clara no Brasil. Os prazos e as taxas estão melhorando, mas ainda continuam muito mais apertadas do que antes da crise.
Ainda assim, com o dólar ladeira abaixo, o alívio pós-crise é expressivo também nessa conta. Essa melhoria também contribui sensivelmente para que a redução do lucro das empresas na comparação anual não seja ainda mais expressiva. O endividamento líquido que havia saltado de R$ 89,6 bilhões para R$ 127 bilhões, de setembro de 2008 a junho deste ano, voltou a cair, fechando o terceiro trimestre em R$ 124 bilhões.